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Viagem ao planeta vermelho

O homem está começando a arrumar as malas para conhecer o planeta de seus sonhos: Marte. Depois de longos preparativos, uma difícil viagem permitirá descobrir os segredos de um outro mundo - e assim também aprender mais sobre a própria Terra.

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Atualizado em 31 out 2016, 18h35 - Publicado em 29 fev 1988, 22h00

Martha San Juan França

A maior montanha, que se eleva a 20 mil metros de altura, faz o Everest parecer um simples monte. Desfiladeiros escarpados rasgam quilômetros de superfície — um deles é dez vezes maior do que o Grand Canyon que atravessa o Arizona, no sudoeste dos Estados Unidos. As paisagens são desérticas, secas e frias, recortadas por sulcos que no passado teriam sido rios caudalosos. O Sol se põe no horizonte cor-de-rosa por causa da poeira em suspensão das rochas avermelhadas. E essas rochas talvez contenham fósseis de microorganismos ou de formas de vida primitiva extintas há milhões de anos junto com a água que teria existido ali. Bem-vindo a Marte, nosso vizinho mais próximo depois de Vênus — onde o homem pensa em pôr os pés daqui a 22 anos. Esse planeta só é maior do que Mercúrio e Plutão. Sua área de 149 milhões de quilômetros quadrados corresponde à soma de quase todos os continentes e ilhas da Terra. Como a Terra, tem um dia de 24 horas (mais 23 minutos, exatamente), estações bem definidas, gelo nos pólos (feito de dióxido de carbono) e noites enluaradas — duplamente enluaradas, porque Marte tem dois satélites:

Phobos (medo, em grego) e Deimos (terror). Mas cuidado com a aparência inofensiva do planeta vermelho. A temperatura de Marte que no verão equatorial pode estar acima de zero grau centígrado, no inverno polar desce a 120 graus negativos. O ar, composto principalmente de dióxido de carbono, tem apenas 1 por cento da densidade da atmosfera terrestre. A quantidade da mistura de oxigênio e nitrogênio é insuficiente para um ser humano respirar. E o ozônio é tão raro que a radiação ultravioleta do Sol penetra à vontade até a superfície do planeta — um cenário de arrepiar os cabelos dos ecologistas, que em seus piores pesadelos temem que a poluição faça isso acontecer um dia na Terra. Há milhões de anos, Marte deve ter sido um planeta muito diferente. Como modernos Sherlock Holmes, os geólogos do espaço procuram no relevo acidentado de agora as pistas daquilo que Marte foi no passado — um planeta um pouco mais quente e úmido, com atmosfera muito mais densa. Naquela época, a água estaria cobrindo 15 por cento da superfície do planeta e talvez formasse um grande oceano, além de lagos e rios. E onde havia água, especulam os cientistas, pode ter existido vida. Em toda a sua extensão, marcas lembram os leitos dos rios em época de seca — alguns com centenas de quilômetros. Pode ser que quase toda a água do planeta esteja escondida no subsolo, abaixo do gelo, como em regiões polares da Terra.

A erosão provocada por essa água, pelo vento e pelo gelo desgastou o relevo marciano. O hemisfério norte parece moldado também por ação vulcânica em período posterior. Seus vulcões têm quilômetros de extensão. Isso porque, como a crosta marciana não se move tanto, ao contrário do que acontece na Terra, a válvula de escape de vulcões hoje extintos continua a ocupar imensas áreas. Por exemplo, a cratera do monte Olimpo, o maior vulcão do planeta, tem 65 quilômetros de largura. Falhas geológicas também podem ter provocado as grandes depressões, como o Vallis Marineris, um canyon que chega a 3 mil metros de profundidade e corta quase a metade dos 6 800 quilômetros de diâmetro do planeta. Desde 1976, quando as sondas americanas Viking 1 e 2 pousaram no solo de Marte, os cientistas da Terra conhecem prós e contras desse planeta. Mas, como no século XV, quando Cristóvão Colombo arriscou a vida e a reputação à procura de um caminho pelo Ocidente até as Índias, os planejadores da conquista espacial querem saber mais sobre esse novo mundo para talvez colonizá-lo no futuro. A meta é enviar os primeiros homens e mulheres a Marte no ano 2010. Quem sabe, os primeiros marcianos de verdade comecem a nascer já por volta de 2050. Não se trata de sonho, mas de cálculo. Tíche iêdesh dálhche búdesh: “Quanto mais devagar se vai, mais longe se chega”, diz o velho provérbio russo. Fiéis a ele, os cientistas espaciais soviéticos estão se preparando para chegar a Marte. Viagens precursoras deverão tornar o planeta quase tão conhecido quanto a Terra.

Enquanto isso, uma dezena de cosmonautas — os antecessores dos primeiros homens a pisar em Marte — continuarão a passar longas temporadas em treinamento nas estações orbitais Salyut-7 e Mir. Na era da glasnost (transparência, em russo) do líder Mikhail Gorbachev, os soviéticos parecem não querer repetir os erros do passado, quando Estados Unidos e União Soviética gastavam tempo, dinheiro e vidas numa competição espacial que rendia mais dividendos políticos do que científicos. A conquista de Marte pode ser uma vitória da cooperação internacional. O Instituto de Pesquisas Espaciais da URSS promoveu em Moscou em março do ano passado um encontro entre 450 cientistas de todo o mundo para uma troca de idéias sobre as futuras viagens espaciais. A proposta soviética de uma viagem a Marte a múltiplas mãos foi aceita por cientistas de vários países. Doze nações já se associaram à URSS na etapa exploratória a desenrolar-se este ano. Mas os parceiros mais cortejados — os americanos — permanecem indecisos. Alguns especialistas ligados ao Departamento de Defesa em Washington querem manter a competição. Outros apontam diferentes prioridades para o programa espacial, como a construção de uma estação orbital ou de uma base permanente na Lua. Mas boa parte dos cientistas pressiona o Congresso — de onde deve vir o dinheiro dos projetos futuros — para investir em Marte. Um expoente dessa linha é o astrônomo Carl Sagan. Outro é o geólogo Bruce Murray.

Ouvido por SUPERINTERESSANTE, o professor Murray, que leciona Ciências Planetárias no Instituto de Tecnologia da Califórnia, em Pasadena, disse que “a comunidade científica só poderá ganhar com a cooperação com os soviéticos”. Murray, vice-presidente da Sociedade Planetária, uma entidade de cientistas americanos presidida pelo astrônomo Carl Sagan, acredita também que “o projeto de um vôo tripulado a Marte reabilitaria a NASA”, depois do desastre da Challenger há dois anos, e traria novo interesse público pelas pesquisas espaciais. De qualquer maneira, a primeira etapa da conquista de Marte já tem data marcada em Moscou. Está previsto para julho o lançamento de dois poderosos foguetes Próton da base de Baikonour, no Casaquistão, Asia Central. Cada um transportará uma sonda Phobos. No espaço, as sondas deverão percorrer 56 milhões de quilômetros, ou seja, 140 vezes a distância da Terra à Lua em duzentos dias para conseguir uma sintonia perfeita com a órbita de Phobos, o maior dos satélites de Marte. Phobos é a porta de entrada escolhida pelos soviéticos. O principal interesse por esse pequeno satélite de 27 quilômetros de diâmetro, praticamente grudado no planeta — fica apenas a 6 mil quilômetros do seu equador —, está na sua história. Phobos, assim como Deimos, pode ser um asteróide atraído pelo campo gravitacional de Marte.

Ao contrário da nossa Lua, tem um formato bastante irregular — parece uma batata esburacada com uma grande cratera numa extremidade, provavelmente lembrança da passagem de um meteorito por sua superfície. Se Phobos for realmente um asteróide, talvez sejam descobertas amostras de condrito carbonáceo no solo. Trata-se de um material rico em carbono, presente em alguns meteoritos. Os asteróides, corpos celestes situados entre os planetas Marte e Júpiter, podem ser restos de um antigo planeta que por algum motivo se espatifou. Esses restos contêm os mesmos materiais dos meteoritos, ou seja, os mais primitivos materiais do sistema solar. É por esse motivo que as principais experiências dos países convidados a participar da expedição soviética a Phobos são de análise da composição do solo. Uma das sondas passará a 50 metros da superfície e acionará várias vezes durante milésimos de segundo um feixe de raios laser. Como um sopro num monte de algodão, a poeira do solo do satélite, cuja massa é muito pequena e não tem atmosfera. Volatiliza-se projetando-se contra um espectrômetro — instrumento que separa partículas segundo a energia radiante que emitem — a bordo da sonda. Enquanto uma das sondas estiver observando a superfície de Marte, a outra lançará por uma espécie de arpão dois pequenos módulos sobre o satélite. Um desses módulos estará à procura de condritos.

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Ele saltará sobre o terreno analisando amostras do solo — e por isso já foi apelidado gafanhoto. O outro, com uma incumbência mais tranqüila, medirá as variações da posição do Sol e das estrelas e tirará fotografias panorâmicas da superfície. Se tudo correr bem, a expedição que deverá durar quinze meses poderá fazer medições também em Deimos — por mais insignificantes que seus 13 quilômetros de diâmetro possam parecer. Outra expedição, já marcada para 1992, dessa vez irá direto ao alvo: Marte. Ela deverá contar com os inestimáveis serviços da grande estrela do programa espacial soviético. Trata-se do Marsokhod, um veículo de seis rodas, semelhante ao que foi usado na Lua pelos próprios russos, capaz de transportar 45 quilos de instrumentos e de percorrer durante meses dezenas de quilômetros da superfície marciana, graças a um sistema de propulsão nuclear. Ao mesmo tempo, dois balões de 17,5 metros de diâmetro analisarão a atmosfera do planeta. Sensíveis às grandes mudanças de temperatura entre o dia e a noite de Marte, os balões vão elevar-se até 6 mil metros de altitude ao amanhecer, para pousar novamente depois que o Sol se puser. Veículos e balões serão depositados no solo por enormes pára-quedas que funcionarão como freios na atmosfera rarefeita de Marte, a exemplo do que aconteceu em 1976 com os módulos das Vikings. Mesmo que os americanos não participem diretamente do programa patrocinado pela União Soviética, não ficarão totalmente apartados.

A NASA tem preparada a sonda Mars Observer, que permanecerá dois anos em órbita de Marte. O lançamento dessa sonda deverá coincidir com o da nave russa e os cientistas dos dois países já decidiram trocar as informações obtidas. A Mars Observer vai tentar suprir alguns claros deixados pelo programa Viking. Ou seja, enquanto as suas antecessoras se limitaram a analisar pontos esparsos do solo marciano, essa sonda fará um mapeamento cuidadoso de toda a superfície do planeta. A experiência americana em Marte por sinal não deve ser subestimada. Foram os americanos os únicos que conseguiram pousar sondas no planeta e enviar fotografias de sua superfície à Terra. Isso aconteceu já em 1971 com a Mariner 9. De seu lado, todos os quinze lançamentos soviéticos falharam. Duas vezes, eles tiveram um azar incrível. Em 1971, a sonda Marte 3 chegou a pousar no solo do planeta e transmitir fotos durante 20 segundos, até seus sinais desaparecerem misteriosamente. O mesmo aconteceu com a Marte 6 no ano de 1973. Os soviéticos pretendem voltar com suas sondas a Marte em 1996 ou 1998. Até lá, o Marsokhod já terá se aperfeiçoado o bastante para coletar amostras do solo. Estas serão armazenadas num módulo que as levará para a sonda de regresso à Terra.

Até o final do século calcula-se que os cosmonautas soviéticas tenham ultrapassado o limite de permanência de três anos no espaço — tempo que deverá durar uma viagem tripulada de ida e volta. Atualmente, o recorde é de 326 dias a bordo da estação Mir. Bater esse recorde não será fácil. Um dos objetivos das prolongadas missões na Mir é justamente testar a capacidade de adaptação do organismo às condições do espaço. Essas condições submetem o corpo humano a duras provações. Por exemplo, na ausência de gravidade, a coluna vertebral deixa de sustentar o peso do corpo e assim a distância entre as vértebras aumenta, “esticando” a pessoa. Quando puseram os pés na Terra depois de 238 dias a bordo da Salyut-7, em 1985, os cosmonautas Leonid Kizim, Vladimir Soloviov e Oleg Atkov mal podiam com as próprias pernas. Desacostumados aos efeitos da gravidade, eles tinham os músculos enfraquecidos e haviam crescido cerca de 3 centímetros. Outra penosa dificuldade que os cosmonautas terão de enfrentar é o enjôo do espaço, provocado pela ausência de gravidade nos ouvidos (veja quadro). Não menos importante são os efeitos psicológicos de uma viagem tão prolongada. Os exemplos dos problemas de comportamento surgidos nos intermináveis confinamentos numa área equivalente à de um quartinho são inúmeros — e graves.

O cosmonauta Valentim Lebedev, após 211 dias a bordo da Salyut-7, queixou-se de atritos com o restante da tripulação, insônia e medo de perder o autocontrole. Iuri Romanenko, o atual campeão de permanência no espaço, quase morreu em 1977, após uma temporada na Salyut-6. Habitualmente calmo, ele brigou com seu colega de bordo Georgy Grechko e com o comando de Terra. Para piorar as coisas, resolveu sair da nave sem o cabo que prende os cosmonautas ao seu interior. Foi preciso que Grechko o agarrasse até ele se acalmar. Diante desses problemas, alguns especialistas chegam a suspeitar que uma viagem a Marte talvez esteja fora do alcance da fisiologia humana. Se isso se revelar verdadeiro, será um duro golpe na fantasia de um dia percorrermos o sistema solar: o homem, quando muito, só conseguiria ir à Lua. Outros alegam que o ser humano não vai se contentar com fotos e cifras enviadas por máquinas e tentará alargar ao máximo o limite de resistência do organismo. Mas não se trata apenas da invencível curiosidade que guia o homem em sua aventura na Terra — e fora dela. Além disso, existem as demandas da ciência. Diz o astrofísico Enos Picazzio, do Instituto de Astronomia e Geofísica da USP: “Em última análise, o que o homem procura encontrar em Marte são respostas para aquilo que ainda não sabe sobre o passado remoto da Terra”.

O Brasil em Marte

Entre os cientistas de trinta países que foram convidados em março do ano passado pela Academia de Ciências de Moscou para participar do simpósio sobre o Projeto Marte estava o físico brasileiro José Marques da Costa, do Instituto de Pesquisas Espaciais (INPE) de São José dos Campos, São Paulo. Marques da Costa, paraense de Belém, com formação em universidades americanas e especialista em geomagnetismo, tinha a incumbência de mostrar aos soviéticos as pesquisas que os brasileiros poderiam desenvolver a bordo das sondas espaciais. Acertou-se que os brasileiros deverão receber dados das sondas Phobos através da antena de 13,7 metros do Rádio-Observatório de Itapetinga, em Atibaia, São Paulo. Além disso, a sonda soviética que for lançada em 1992 terá a bordo um equipamento desenvolvido no INPE pelos físicos Ênio Bueno Pereira e Daniel Jean Roger Nordemann. Trata-se de um medidor de radônio, um dos elementos responsáveis pelas radiações naturais da atmosfera, ao lado do urânio, tório e potássio-40 contidos no solo e nas rochas. O INPE vem utilizando o medidor desde 1986 para detectar sinais de radônio na Antártida. Segundo o físico francês Nordemann, o gás radônio, gerado pelo decaimento do rádio, escapa para a atmosfera. Embora não apresente afinidade química com outros elementos, tem a curiosa propriedade de ser solúvel na água. É por isso que aparece pouco sobre oceanos, terras inundadas ou cobertas de gelo. Essa propriedade será testada em Marte como parte do complicado quebra-cabeça de descobrir o que aconteceu com a água do planeta. Além disso, o radônio é um indicador seguro dos movimentos das massas de ar e dos fenômenos climáticos que afetam a atmosfera — assim na Terra como em Marte.

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“Tudo se move em câmara lenta”

Em julho de 1975, o astronauta Donald Kenneth Slayton foi um dos quatro americanos que participaram do vôo conjunto Apollo-Soyuz com dois cosmonautas soviéticos. Atualmente com 64 anos, empresário, Slayton lembrou recentemente a SUPERINTERESSANTE como foram os dez dias daquela missão, cinco dos quais com os russos.

Qual a sensação de flutuar no espaço?

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É como estar debaixo da água. Tudo se move em câmara lenta e a gente nem sempre consegue controlar os movimentos. É preciso ter paciência no começo, mas depois você se acostuma.

Como era a alimentação?

Bem variada. O cardápio da NASA tem mais de 150 tipos de refeições. É claro que havia limitações: não podíamos fritar um ovo, por exemplo. Mas havia sopa e café. Quando encontramos os russos, eles nos ofereceram latas de borsht (sopa de beterraba). De brincadeira pusemos rótulos de vodca nas latas. Naquele tempo não se podia beber nem refrigerante. Depois, eu soube de astronautas que tomaram Pepsi e Coca-Cola numa viagem dos ônibus espaciais.

Como vocês dormiam?

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Na ausência de gravidade é preciso prender o corpo para não flutuar no vácuo. Nós ou usávamos um cinto de segurança ou dormíamos em sacos, que não eram muito confortáveis porque não permitiam grande mobilidade.

Como foi o encontro com os soviéticos no espaço?

Foram cinco dias de convívio constante. Várias vezes tomamos café da manhã ou almoçamos na nave russa e vice-versa. As duas naves estavam acopladas e passávamos de um lado para o outro sem problemas. Quando o homem quer, a cooperação é perfeitamente possível, qualquer que seja o país ou a crença. Aprendemos muito nesse vôo.

A ilusão dos canais

Um mundo velho, onde uma civilização muito superior à nossa tentava heroicamente sobreviver em condições adversas. Esta era a idéia que os habitantes da Terra tinham sobre Marte, apelidado planeta vermelho por causa de sua coloração diferente de todos os outros astros. Essa noção veio das observações dos astrônomos do final do século XIX. Tudo começou quando o astrônomo italiano Giovanni Schiaparelli (1835-1910) resolveu desenhar um mapa de Marte em 1877. Ao telescópio, Schiaparelli notou uma série de linhas escuras e finas que uniam áreas escuras maiores, da mesma forma que valas e canais unem duas massas de água. E chamou-as canali. Do italiano, a palavra foi traduzida como channel em inglês, que significa canal construído pelo homem e não um acidente geográfico natural.

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A imaginação popular, entusiasmada com a construção de canais como o de Suez, completado em 1869, logo fantasiou engenheiros marcianos. A fantasia contagiou até cientistas. O astrônomo americano Percival Lowell (1855-1916) construiu um observatório no Arizona através do qual durante quinze anos viu os canais de Schiaparelli e muito mais. Ele achava que as áreas escuras ao lado dos canais seriam sinais de vegetação irrigada cuidadosamente pela água trazida das calotas polares.

A maioria dos astrônomos não via nada do que Lowell dizia enxergar. Mas o público adorava as suas histórias — e falava dos “canais de Marte” como uma realidade indiscutível, dos quais só não se conhecia ao certo a origem. Nos últimos trinta anos, sondas espaciais mapearam Marte de ponta a ponta e nada foi descoberto que se parecesse com canais. Hoje em dia, os astrônomos estão convencidos de que tudo não passou de uma ilusão de ótica — e de mentalidade.

Para saber mais:


O maior espetáculo

(SUPER número 6, ano 3)

Réplica da Terra em Marte

(SUPER número 10, ano 6)

Busca adiada dos últimos marcianos

(SUPER número 11, ano 7)

Mas isso é que é ET?

(SUPER número 10, ano 10)

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